segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Umas palavras da coordenadora



São 15h da tarde.
Há sol mas umas tantas nuvens ameaçam um chuveiro. É o Outono a ganhar forma. A noite já chega mais ligeira e o aconchego do lar convida-nos ao silêncio. Enrosco-me no meu caracol, fecho os olhos e recordo. Aos poucos, junto bocadinhos guardados na memória e no coração e tento compor a História e as estórias de um passado recente. Não fosse eu de História! Os anos a fio que dediquei ao trabalho arqueológico, ensinaram-me a ter paciência, a dar tempo ao tempo, para que a verdadeira história aparecesse.
Num caderno branquinho que me foi oferecido há dias por quem guardo no coração, registo os meus pensamentos, o que Deus me permitiu reter nos olhos do coração.
Não pretendo cronicar porque não tenho nem arte nem o engenho necessários, mas algum jeito tenho em juntar o A e o B e por isso, e para memória futura, partilhar convosco venturas e desventuras do VI AcampaKi.
Na minha atividade profissional, imagino uma aula em função dos alunos que tenho. Atenta aos objetivos a atingir, transformo a matéria numa estória apetecível e atraente para que todos os meus discentes a apreendam. Também com esta arte, transformo os legumes mais difíceis em sopas apetecíveis para as minhas filhas porque, quem gosta de nabos aos 7 anos de idade? Pois bem! Com a mesma magia e dedicação, pensamos o AcampaKi como um momento e uma possibilidade de conhecer Deus de outra maneira, de nos tornarmos amigos fortes sem vergonha de lhe falarmos abertamente. Tudo na vida vai como nos é apresentado, assim creio! O nosso Deus é alegre e bem-disposto, mora numa tenda, reza connosco a céu aberto tendo as estrelas como os melhores candelabros do mundo! O nosso Deus é amor e nós acreditamos que os jovens o devem conhecer. Acreditamos que é possível mostrar este Deus aos jovens da sapatilha, da comida plástica, dependentes da net e dos encontros virtuais. No AcampaKi são 7 dias de encontro muito real com ELE, sempre acompanhados pelas palavras de Santa Teresa e de S. João da Cruz, os nossos pais. Afinal, os pais sempre acompanham os filhos e estes pais são muito especiais! Viveram num tempo em que viver era difícil, em que manter-se vivo e com saúde era objetivo quase diário. Viveram num tempo em que o poder estava confinado nas mãos de alguns que determinavam o modo de agir e pensar de todos os outros. Mas mesmo assim nesses tempos em que a liberdade de ação e de pensamento era apenas um conceito abstrato dos dicionários, eles conseguiram fazer nascer um novo modo de amar Deus, de alimentar a fé, um novo modo de caminhar. Com a mesma determinada determinação, nós nos propusemos organizar o VI AcampKi, um acampamento de jovens com atividades diversas e momentos de oração muito bem planeados. Temos “professores” que partilham connosco experiências de vida e manifestações do poder de Deus nas suas vidas, temos música, temos piscina, temos alegria, animação, temos também momentos de lágrimas por que é preciso lavar o pó dos olhos e, acima de tudo, limpar o “pó da alma” que se vai acumulando neste turbulento dia-a-dia.
Foi com estes pressupostos que preparamos o AcampaKi. Foi com a intenção de mostrar Jesus aos jovens, fazê-los perceber que é possível ser-se católico e ser-se “fixe e cool” ao mesmo tempo. São realidades compatíveis e é necessário que todos entendam isso. Queremos lutar contra seres amorfos e de mente atarracada. Queremos jovens participativos, interventivos, questionadores e que aprendam a criar disponibilidade de tempo. Sim, porque o mais fácil é não ter tempo para estar com Jesus, falar com ELE, ir à Igreja e participar na Eucaristia. Nós conseguimos tornar agendas elásticas! Afinal, quando estamos de coração aberto, o amor acontece. 

Entre equipa coordenadora e jovens acampaKis, eramos 22. Entre várias atividades, virámos a noite dia, apanhámos bolotas e pintámos peixinhos em seixos do mar para construirmos um cardume mais forte e coeso. Aliás, era este o lema do nosso acampamento. 



De jornais e revistas construímos lindas caravelas que flutuaram na vinha de Deão ao sabor do vento. Fomos em busca do tesouro e encontramos Fé, Esperança e Caridade. Escutámos o Provincial Joaquim Teixeira e guardámos no coração as suas palavras de incentivo e coragem. Ouvimos a Família Tato e percebemos como uma criança diferente muda a vida de uma família, para melhor. Recebemos a Rita e percebemos duras realidades de vida e da Jana ouvimos a significado da palavra Amizade. Com a Verónica Raquel aprendemos a fazer terços e com eles rezámos a Coroinha do Carmo Jovem, previamente pensada e construída. Com todos estes professores rezámos, no final das suas aulas, uma oração previamente elaborada e comprometemo-nos a rezar todos os dias a mesma oração por todos eles. Nestes dias sentimos calor mas também sofremos com o fresco da noite e com a brisa do nascer do dia; aprendemos a partilhar o mesmo espaço, a dividir o pão e a multiplicar sorrisos. Conhecemo-Lo melhor… ou pelo menos esforçámo-nos por isso. Quando duvidámos, tínhamos a nossa mãe, Nossa Senhora do AcampaKi, que sempre nos ilumina. O meio da semana trouxe consigo a noite aberta, uma noite para recebermos visitas. E este ano recebemos duas muito importantes, a Laura e Sara que chegaram para nos visitar mas acabaram por ficar connosco! Sabem porquê? Porque o espírito do acampaKi é um cardume contagiante e irrecusável! 




Na Eucaristia de Domingo, momento mais importante do AcampaKi, o Carmo Jovem homenageou o João Carlos com a imposição da cruz carmelita, desejando-lhe tudo de bom na sua nova vida que se iniciaria brevemente ao tornar-se Frei João Carlos. Também os restantes acampaKis receberam a tão desejada cruz e dele se devem fazer acompanhar nas próximas atividades do Movimento.
Se foi difícil? Claro que foi! Imaginem quantas horas se gastaram a planear tudo, a preparar, a fazer compras, a escolher ementas, a verificar o estado das cordas, dos pregos, das lonas, das lâmpadas, a redigir guiões, a inventar T-shirts, a maquinar diferentes atividades e tudo isto em paralelo com as vidas pessoais e profissionais de cada um. Um obrigado a todos que criaram disponibilidade no coração, tanto os elementos da equipa coordenadora como todos aqueles que mais indiretamente nos ajudam. Um obrigado à cozinheira Balbina que sempre nos presenteou com uma ementa deliciosíssima.
Se foi duro? Foi! Levantar sempre às 8h da manhã e ter o dia todo preenchido sabendo que à mínima falha, o Frei João nos puxaria as orelhas!
Se teve momentos amargos? Teve! Alguns! Porque as dúvidas toldam-nos o pensamento e fazem-nos bloquear o cérebro porque muitas vezes achamos que não somos capazes de tamanha responsabilidade.
E teve coisas boas? Sim! Muitas! Inexplicáveis em palavras! As emoções, os sorrisos, os amigos, o Amigo, a serenidade, a paz… Acredito que Santa Teresa de Jesus está um bocadinho mais feliz ao ver a Gotinha a ficar mais forte.
Lá fora chuvisca! Uma chuva miudinha toca nas flores do meu jardim que a recebem como uma bênção dos céus. Lembro dos quatro graus de oração da Santa que foram o nome das quatro aldeias do VI AcampaKi – poço, nora, levada, chuva. É assim. Cada atividade tem uma meta de aprendizagem como uma aula. Mas aqui não há provas nem exames. Aqui só há o amor que acontece…por ELE e para ELE.
Passou tanto tempo e só agora a crónica? Bem, não é uma crónica, já o expliquei. É um fragmento da História do Carmo Jovem. Sim, passou muito tempo mas não estivemos parados. Não! Estivemos em reflexão. Às vezes, é preciso parar para andar. Repensar, reorientar, rasgar com o passado para perspetivar o futuro. É assim na História! É assim na vida! Foi assim comigo! São momentos de confrontação, de questionamento, de análise e também de sofrimento…acreditem, que é verdade. Há dor nestes rasgões. Digamos que foi uma revolução e na pós-revolução, andemos para a frente. E esta vontade nasce do amor pela Gotinha. Ela deve continuar a sarapintar a nossa vida e a de todos aqueles que a quiserem conhecer.
Gotinha a gotinha formamos um riacho que se tornará forte e com a ajuda de Deus regará o jardim dos nossos corações.
Até sempre, acampaKis!

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