São 15h da tarde.
Há sol mas umas tantas nuvens
ameaçam um chuveiro. É o Outono a ganhar forma. A noite já chega mais ligeira e
o aconchego do lar convida-nos ao silêncio. Enrosco-me no meu caracol, fecho os
olhos e recordo. Aos poucos, junto bocadinhos guardados na memória e no coração
e tento compor a História e as estórias de um passado recente. Não fosse eu de
História! Os anos a fio que dediquei ao trabalho arqueológico, ensinaram-me a
ter paciência, a dar tempo ao tempo, para que a verdadeira história aparecesse.
Num caderno branquinho que me foi
oferecido há dias por quem guardo no coração, registo os meus pensamentos, o
que Deus me permitiu reter nos olhos do coração.
Não pretendo cronicar porque não
tenho nem arte nem o engenho necessários, mas algum jeito tenho em juntar o A e
o B e por isso, e para memória futura, partilhar convosco venturas e
desventuras do VI AcampaKi.
Na minha atividade profissional,
imagino uma aula em função dos alunos que tenho. Atenta aos objetivos a
atingir, transformo a matéria numa estória apetecível e atraente para que todos
os meus discentes a apreendam. Também com esta arte, transformo os legumes mais
difíceis em sopas apetecíveis para as minhas filhas porque, quem gosta de nabos
aos 7 anos de idade? Pois bem! Com a mesma magia e dedicação, pensamos o
AcampaKi como um momento e uma possibilidade de conhecer Deus de outra maneira,
de nos tornarmos amigos fortes sem vergonha de lhe falarmos abertamente. Tudo
na vida vai como nos é apresentado, assim creio! O nosso Deus é alegre e
bem-disposto, mora numa tenda, reza connosco a céu aberto tendo as estrelas
como os melhores candelabros do mundo! O nosso Deus é amor e nós acreditamos
que os jovens o devem conhecer. Acreditamos que é possível mostrar este Deus
aos jovens da sapatilha, da comida plástica, dependentes da net e dos encontros
virtuais. No AcampaKi são 7 dias de encontro muito real com ELE, sempre
acompanhados pelas palavras de Santa Teresa e de S. João da Cruz, os nossos
pais. Afinal, os pais sempre acompanham os filhos e estes pais são muito
especiais! Viveram num tempo em que viver era difícil, em que manter-se vivo e
com saúde era objetivo quase diário. Viveram num tempo em que o poder estava
confinado nas mãos de alguns que determinavam o modo de agir e pensar de todos
os outros. Mas mesmo assim nesses tempos em que a liberdade de ação e de
pensamento era apenas um conceito abstrato dos dicionários, eles conseguiram
fazer nascer um novo modo de amar Deus, de alimentar a fé, um novo modo de
caminhar. Com a mesma determinada determinação,
nós nos propusemos organizar o VI AcampKi, um acampamento de jovens com
atividades diversas e momentos de oração muito bem planeados. Temos
“professores” que partilham connosco experiências de vida e manifestações do
poder de Deus nas suas vidas, temos música, temos piscina, temos alegria,
animação, temos também momentos de lágrimas por que é preciso lavar o pó dos
olhos e, acima de tudo, limpar o “pó da alma” que se vai acumulando neste
turbulento dia-a-dia.
Foi com estes pressupostos que
preparamos o AcampaKi. Foi com a intenção de mostrar Jesus aos jovens, fazê-los
perceber que é possível ser-se católico e ser-se “fixe e cool” ao mesmo tempo.
São realidades compatíveis e é necessário que todos entendam isso. Queremos
lutar contra seres amorfos e de mente atarracada. Queremos jovens
participativos, interventivos, questionadores e que aprendam a criar
disponibilidade de tempo. Sim, porque o mais fácil é não ter tempo para estar
com Jesus, falar com ELE, ir à Igreja e participar na Eucaristia. Nós
conseguimos tornar agendas elásticas! Afinal, quando estamos de coração aberto,
o amor acontece.
Entre equipa coordenadora e
jovens acampaKis, eramos 22. Entre várias atividades, virámos a noite dia, apanhámos
bolotas e pintámos peixinhos em
seixos do mar para construirmos um cardume mais forte e coeso. Aliás, era este
o lema do nosso acampamento.
De jornais e revistas construímos lindas caravelas
que flutuaram na vinha de Deão ao sabor do vento. Fomos em busca do tesouro e
encontramos Fé, Esperança e Caridade. Escutámos
o Provincial Joaquim Teixeira e guardámos
no coração as suas palavras de incentivo e coragem. Ouvimos a Família Tato e
percebemos como uma criança diferente muda a vida de uma família, para melhor.
Recebemos a Rita e percebemos duras realidades de vida e da Jana ouvimos a
significado da palavra Amizade. Com a Verónica Raquel aprendemos a fazer terços
e com eles rezámos a Coroinha do Carmo Jovem, previamente
pensada e construída. Com todos estes professores rezámos, no final das suas aulas, uma oração previamente elaborada e
comprometemo-nos a rezar todos os dias a mesma oração por todos eles. Nestes
dias sentimos calor mas também sofremos com o fresco da noite e com a brisa do
nascer do dia; aprendemos a partilhar o mesmo espaço, a dividir o pão e a
multiplicar sorrisos. Conhecemo-Lo melhor… ou pelo menos esforçámo-nos por isso. Quando duvidámos, tínhamos a nossa mãe, Nossa
Senhora do AcampaKi, que sempre nos ilumina. O meio da semana trouxe consigo a
noite aberta, uma noite para recebermos visitas. E este ano recebemos duas
muito importantes, a Laura e Sara que chegaram para nos visitar mas acabaram
por ficar connosco! Sabem porquê? Porque o espírito do acampaKi é um cardume contagiante e irrecusável!
Na Eucaristia de Domingo, momento
mais importante do AcampaKi, o Carmo Jovem homenageou o João Carlos com a
imposição da cruz carmelita, desejando-lhe tudo de bom na sua nova vida que se
iniciaria brevemente ao tornar-se Frei João Carlos. Também os restantes
acampaKis receberam a tão desejada cruz e dele se devem fazer acompanhar nas
próximas atividades do Movimento.
Se foi difícil? Claro que foi!
Imaginem quantas horas se gastaram a planear tudo, a preparar, a fazer compras,
a escolher ementas, a verificar o estado das cordas, dos pregos, das lonas, das
lâmpadas, a redigir guiões, a inventar T-shirts, a maquinar diferentes
atividades e tudo isto em paralelo com as vidas pessoais e profissionais de
cada um. Um obrigado a todos que criaram disponibilidade no coração, tanto os
elementos da equipa coordenadora como todos aqueles que mais indiretamente nos
ajudam. Um obrigado à cozinheira Balbina que sempre nos presenteou com uma
ementa deliciosíssima.
Se foi duro? Foi! Levantar sempre
às 8h da manhã e ter o dia todo preenchido sabendo que à mínima falha, o Frei
João nos puxaria as orelhas!
Se teve momentos amargos? Teve!
Alguns! Porque as dúvidas toldam-nos o pensamento e fazem-nos bloquear o
cérebro porque muitas vezes achamos que não somos capazes de tamanha
responsabilidade.
E teve coisas boas? Sim! Muitas!
Inexplicáveis em palavras! As emoções, os sorrisos, os amigos, o Amigo, a
serenidade, a paz… Acredito que Santa Teresa de Jesus está um bocadinho mais
feliz ao ver a Gotinha a ficar mais
forte.
Lá fora chuvisca! Uma chuva
miudinha toca nas flores do meu jardim que a recebem como uma bênção dos céus.
Lembro dos quatro graus de oração da Santa que foram o nome das quatro aldeias
do VI AcampaKi – poço, nora, levada, chuva. É assim. Cada atividade tem uma
meta de aprendizagem como uma aula. Mas aqui não há provas nem exames. Aqui só
há o amor que acontece…por ELE e para ELE.
Passou tanto tempo e só agora a
crónica? Bem, não é uma crónica, já o expliquei. É um fragmento da História do
Carmo Jovem. Sim, passou muito tempo mas não estivemos parados. Não! Estivemos
em reflexão. Às vezes, é preciso parar para andar. Repensar, reorientar, rasgar
com o passado para perspetivar o futuro. É assim na História! É assim na vida!
Foi assim comigo! São momentos de confrontação, de questionamento, de análise e
também de sofrimento…acreditem, que é verdade. Há dor nestes rasgões. Digamos
que foi uma revolução e na pós-revolução, andemos para a frente. E esta vontade
nasce do amor pela Gotinha. Ela deve
continuar a sarapintar a nossa vida e a de todos aqueles que a quiserem
conhecer.
Gotinha a gotinha formamos um
riacho que se tornará forte e com a ajuda de Deus regará o jardim dos nossos
corações.
Até sempre, acampaKis!
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