quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Rei

O Rei, cuja coroa de oiro é luz
Fita do alto do throno os seus mesquinhos.
Ao meu Rei coroaram-O de espinhos
E por throno Lhe deram uma cruz.
O olhar fito do Rei a si conduz
Os olhares fitados e visinhos
Mas mais me fitam, e mortas sem carinhos,
As palpebras descidas de Jesus.
O Rei falla, e um seu gesto tudo prende,
O som da sua voz tudo transmuda.
E a sua viva majestade esplende;
Meu Rei morto tem mais que majestade:
Falla a Verdade nessa bocca muda;
Suas mãos presas são a Liberdade.
Fernando Pessoa
31.7.1935

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